Um novo olhar para as rampas

Os navios Ro-Ro tem potencial para o protagonismo na segurança e eficiência do transporte marítimo.


Talvez você já tenha ouvido falar que o navio Ro-Ro é um grande estacionamento de shopping flutuante. Sim ele é isso mesmo, porém ele é muito mais do que isso. Pode-se dizer também que essa classe de navios são verdadeiros terminais flutuantes.

Os primeiros navios Ro-Ro foram construídos no século XIX, objetivando realizar o transporte de trens por rios muito largos, nos quais era inviável a construção de pontes. Esses navios eram equipados com trilhos que podiam ser conectados aos que estavam em terra e o trem simplesmente rolava para dentro do navio e depois para fora.

Com a necessidade de realizar o transporte de passageiros e veículos em geral, os navios Ro-Ro foram sendo aperfeiçoados para oferecer um melhor serviço. Dessa forma, estas embarcações passaram a representar um transporte mais seguro, com menor tempo de viagem e de carga e descarga, já que antes os carros eram carregados / descarregados por meio de guindastes. Com o crescimento do comércio internacional de veículos, surgiu a necessidade da criação de um navio especializado no transporte de carros.

Os primeiros navios de carga Ro-Ro exclusivo de carros (Pure Car Carrier – PCC), especialmente equipados para o transporte de grandes quantidades de veículos, entraram em serviço no início dos anos 1960.

Hoje em dia, os navios Ro-Ro são dotados diversos decks totalmente ajustáveis, onde pode-se carregar todo tipo de carga: desde um avião completo até uma simples bicicleta; desde um grande gerador de mais de 100 toneladas ou até uma pequena caixinha com parafusos.

Os grandes armadores do mercado mundial estão presentes no porto de Santos com escalas que conduzem as carga para os grandes portos do mundo e ramificações para todas as regiões.

Com o advento da crise relacionada à falta de contêineres no mercado mundial, os navios Ro-Ro viraram uma opção segura para as cargas que usualmente seriam carregadas dentro das caixas metálicas.

Com um aumento de mais de 100% na movimentação de cargas soltas somente no Porto de Santos, o transporte Ro-Ro se mostrou a melhor opção em meio à essa crise mundial, demonstrando ao mercado a multifuncionalidade deste segmento.

Produtos como madeira, big bags e geradores que dificilmente figuravam soltos dentro dos decks, hoje encontramos regularmente subindo as rampas de popa.

Alguns setores como os de energia, petróleo e gás, ferroviário e aviação já estão acostumados a movimentar suas cargas nesses grandes cargueiros com suas enormes rampas, pois estes setores produzem equipamentos de grande porte que regularmente precisam ser enviados para todo o mundo.

A grande vantagem que essas embarcações oferecem, é a possibilidade de minimizar o içamento e manuseio das cargas, garantindo que sejam movimentadas em locais seguros, reduzindo drasticamente o risco de danos.

A crise mundial gerada pela pandemia têm sido um grande desafio para o comércio exterior, mas o mercado mundial de navegação tem mostrado o extraordinário poder de adaptação dos profissionais atuantes nessa área e o transporte Ro-Ro mostrou seu protagonismo.

Marciel Carvalho

Gerente de planejamento e consultor portuário. Atua há mais de 20 anos no Porto de Santos, obtendo vasta experiência principalmente no segmento de celulose e ro-ro. Formado em Administração de Empresas com pós graduação em Gestão Estratégica de Pessoas, desenvolve trabalho na área de recrutamento e recursos humanos para o setor portuário.