Não investir em ESG traz obstáculos ao crescimento, diz Marcelo Serfaty
Executivo apontou a necessidade de se investir na agenda ESG durante evento organizado pela Liber sobre o tema.
A agenda ESG é uma necessidade inadiável, e sua importância foi reforçada, mais uma vez, durante o evento “ESG na Cadeia Produtiva”, organizado pela Liber, empresa especialista em Supply Chain Finance, e que contou com a participação de diversas empresas, como Petrobras, BNDES, JBS, CBA e grupo SOMA.
“O ESG não é mais um ‘nice to have’, é um ‘must have’, pois ele implica em uma mudança definitiva e estrutural nas relações econômicas dentro da sociedade”, explicou Marcelo Serfaty, CEO da Liber. Durante o evento, na sede da empresa em São Paulo, o executivo apontou os três principais riscos para as empresas que não investirem nesta agenda, sendo o primeiro deles a diminuição do crescimento. “Os exportadores que não se atentarem às práticas ESG correm risco de serem excluídos do mercado. Isso significa que o potencial de crescimento de quem não tiver o conteúdo ESG dentro das suas companhias, será reduzido consideravelmente”, prosseguiu.
O segundo risco diz respeito ao aumento de custos. “O sistema financeiro já não aceita mais esse modelo. Por isso, empresas que realizarem seu IPO sem atentar a tais práticas terão custos maiores, o que pode ameaçar, até mesmo, a sobrevivência do negócio”, afirma. “Existe, ainda, um terceiro risco que é o de imagem. Ele pode provocar um efeito generalizado de perda de credibilidade nestas companhias. Para aquelas que têm ações na bolsa de valores, o impacto poderá ser refletido na queda das ações e de valor de mercado, além da confiança junto aos investidores”, completa.
Ainda durante o evento, o executivo destacou que o investimento em ESG pode gerar ganho potencial de PIB, uma vez que a adoção dessas práticas pelas empresas brasileiras possibilitará maior acesso aos mercados internacionais. “Isso, consequentemente, aumentará a busca por seus produtos por causa de um diferencial competitivo que, ainda, não está consolidado no mundo. Todos estão avançando nesta direção e não podemos ficar para trás”.
Já Sonia Consiglio, escritora e SDG Pioneer do Pacto Global da ONU Brasil, falou sobre como a sustentabilidade é uma agenda estratégica e inadiável. “ESG não é uma sigla, é um novo modelo de negócio”, explica.
A palestrante citou ainda diversas ações tomadas no âmbito internacional visando a agenda sustentável, como o pacote bilionário aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos para a agenda climática e a aprovação pelo Parlamento Europeu de uma série de propostas que visam a redução do desmatamento. “Isso envolve, essencialmente, a cadeia de suprimentos e essas ações movimentam a cadeia de fornecedores de todo o mundo. Portanto, é importante estar atento a essas tendências e investir na ESG”, completa.
Bruno Aranha, diretor do BNDES, falou sobre as ações adotadas pelo banco de fomento para estimular o desenvolvimento sustentável no país. “Estamos trabalhando em três verticais: institucional, recursos e soluções. Então, temos avançado de forma institucional no que diz respeito a nossas políticas sociais e de governança, bem como a gestão de pessoas e risco”, afirma.
“No caso do pilar de recursos, o BNDES está saindo de uma posição de mono funding, expandindo novas possibilidades. Existem muitos fundings disponíveis para sustentar os projetos socioambientais, e nós estamos tentando aproveitar essas oportunidades por meio de fundos temáticos e relacionamentos com nossos parceiros. Temos ampliado nossas soluções de crédito, sempre com a perspectiva da sustentabilidade”.
Para Rafael Chaves, diretor de Sustentabilidade da Petrobrás, a sustentabilidade é um desafio mundial. Apesar do mundo ainda emitir muito gás carbono, o executivo destacou a necessidade de se realizar a transição energética, mas de forma gradual e responsável. Para ele, é necessário investir na descarbonização. “É preciso um forte incentivo a essas práticas, e a Petrobrás tem ajudado neste processo por meio de incentivos e patrocínios a eventos que visam a conscientização”, explica.
O executivo listou, ainda, alguns dos principais artifícios que a Petrobras tem realizado visando essa transição energética. “A primeira delas é o óleo de baixo carbono, que é ofertado no mercado e tem uma emissão por barril de 10 kg de CO2 equivalente, enquanto a média global é 17 kg CO2 equivalente, ou seja, temos uma redução de 70% nas emissões”, explicou.
“Outra iniciativa é na matriz de transporte. O biocombustível brasileiro tem 25% de conteúdo renovável, diferentemente da média global, que é de 5%. E a Petrobras, não só apoia, como investe nessa produção. Inclusive, em nosso plano estratégico, temos a previsão de construir uma planta para produzir bioQAV, que é conteúdo 100% renovável”, acrescenta.
Já Raquel Montagnoli, coordenadora corporativa de Sustentabilidade da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), ressaltou que a empresa “já fazia ESG muito antes da sigla existir”. A CBA tem um programa de suprimentos sustentáveis e vem buscando estruturar sua cadeia de fornecedores para alavancar todos os parceiros na agenda ESG. “Nós acreditamos que só faz sentido se formos todos juntos. Então, não queremos trabalhar sozinhos nesta agenda, mas trazer toda a nossa cadeia de valor para esse novo modelo”, explica.
“Compreendemos a agenda ESG como fundamental para o nosso futuro. Por isso, elaboramos uma agenda estratégica até 2030 com nossos principais objetivos e metas. Ao todo, temos mais de trinta metas que buscamos alcançar até a próxima década. E a cadeia sustentável faz parte delas. Nós buscamos fomentar essa agenda não só com nossos fornecedores, mas também com nossos clientes”, afirma.
Dentre os objetivos da CBA, um deles é ter 100% da base de fornecedores alinhado com a política de Fornecimento Sustentável da companhia e outra é aumentar em 10% as compras de fornecedores locais, os PMEs. “Sabemos que não é fácil trabalhar com toda a cadeia de valor para alavancar isso, mas temos um plano bem desenhado e que tem nos ajudado nessa missão”.
O evento “ESG na Cadeia Produtiva” contou ainda com uma rodada de conversas que uniu CBA, grupo SOMA e Friboi para discutir os principais cases empresariais voltados a tais práticas sustentáveis.